“Jeitinho Brasileiro” x Futebol

Com precisão cirúrgica, Da Mata disseca a sociedade brasileira, escancarando suas mazelas no livro Carnavais, Malandros e Herois. A partir de uma análise da comunidade tupiniquim, o autor consegue conceber o povo brasileiro como, ao mesmo tempo, pessoas e indivíduos. Os primeiros compõe as classes abastadas, enquanto o segundo sinaliza a massa de manobra, o “povão”. As pessoas, na concepção de Da Mata, são indivíduos que não são atingidos pelas por qualquer ordenação imposta pelo Estado. São estes que utilizam frequentemente a frase “VocÊ sabe com quem está falando?”, aludindo a ideia de que o ordenamento jurídico-social não os atingem, pois por meio de artimanhas, mais conhecido como “jeitinho brasileiro”, conseguem burlar a ordem vigente. Enquanto o povo, são os atingidos diretamente pelo ordenamento. Compreende-se a partir dessa breve explanação que os possuidores de padrinhos, prestígio e poder socioeconômico, estão em uma hierarquia superior aos demais, por derradeiro, o povo é o que sente a força das filas, da morosidade do atendimento estatal, ou mesmo da lei, pois não possuem meios que permitam cortar tais imposições. Dessa maneira conclui-se que o ordenamento jurídico de fato é construído afim de controlar a classe oprimida.

Levando toda essa ótica para o meio futebolístico, podemos concluir que o dito “jeitinho brasileiro” permeia essa seara esportiva. Os jogadores de futebol são as típicas pessoas que Da Mata retrata. Possuidores de prestígio e poder socioeconômico, agem como se pudessem estar acima de qualquer outro indivíduo, e em uma ótica mais crítica,  realmente estão. Essas pessoas não são atingidas pelo ordenamento sóciojurídico, por pertencerem a um meio que os fazem ficarem isentos de qualquer sanção. Vale ressaltar como se portam, como agem. Mantem-se distante daqueles que ovacionam seu nome nos estádios, e que, de certa forma, indiretamente pagam seus salários.

Não são somente os jogadores de futebol que possuem uma vida em uma classe social diferenciada. Os dirigentes de futebol, mais conhecidos como Cartola, são os típicos e mais perfeitos representantes do “jeitinho brasileiro” e do “Você sabe com quem está falando?”. Quantas vezes nos meios de comunicação aparecem notícias acerca dos procedimentos ilícitos desses indivíduos, que ficam totalmente impunes? Os meios que tais pessoas utilizam para adquirir renda aos seus clubes, resultados, influência na arbitragem do jogo de futebol são exemplos de tão quanto pode ser podre o mundo futebolístico. Figuras ilustres já figuraram no futebol. Entre muitos podemos citar ex-presidentes do Corinthians, do Palmeiras e é claro, “um ilustríssimo ex-presidente do Vasco da Gama”.

O futebol, dito como paixão nacional, não está isento da forma como os brasileiros costumam se tratar e acabam julgando tais procedimentos como normais.

Rafael Luz, William Anjos, João Gabriel, João Paullo, Tailan, Felipe Martins

Etinografia

Olhe suas preferências;

Ser tendencioso é a maior

das tendências.

(Derywendell 😀 )

Partindo do conhecimento superficial que pudemos  adquirir sobre o que “Pensar Antropologicamente” e sobre a questão da etnografia, pensamos  em falar sobre isso levando em conta algumas experiências que tivemos ao longo das nossas vidas. É sabido de todos que as pessoas tendem a se agrupar, seja por motivos econômicos, religiosos, por afinidade, etc.

E na fase da escola, isso não é diferente; sentimos a necessidade de pertencer a um determinado grupo, seja o dos nerds, o da bagunça, o grupinho das meninas, o dos “caras”, o grupinho que curte um estilo X de música, e outro que curte Y. E essa necessidade de se adaptar faz com que às vezes tenhamos que abrir mão de algumas coisas e passar a agir de forma diversa, sem que isso seja um real desejo, mas sim uma forma de “legitimidade” no grupo o qual agora pertencemos. O fato é que ao nos pertencermos a um grupo específico, delegamos a ele a capacidade de nos representar, e passamos a ser também, alguém que o representa. A exemplo disso podemos citar as discussões sobre estilos musicais, quando, quem curte, por exemplo, rock, diz ser este estilo, o melhor, em detrimento, geralmente(ao menos aqui na Bahia) ao Axé. E não deixando também de haver a postura semelhante, em grande parte do casos, de quem curte o Axe, proclamando ser este muito melhor que aquele. E a pergunta que fica é a seguinte: qual o critério que se utiliza para valorar um ou outro?

O critério, que parece ser difícil ser percebido, pois está enraizado em cada um, é pessoal, havendo sempre, uma hierarquização entre o que é nosso e o que pertence ao outro, e na grande maioria das vezes, o que vemos como nosso fica no topo dessa tal hierarquia; vemos como superior, como melhor, etc, e o diferente é o “ruim”, “bizarro”, “estranho”, é sempre rebaixado, e isso é motivado pela incapacidade de vermos que o que internalizamos é fruto de um traço cultural, utilizado como ponto de referência para as nossas análises, sem perceber que o outro acaba por partir de um ponto diferente.  A título de exemplos mais amplos, podemos citar a chegada dos Europeus à América. Estes, por terem uma influência da igreja católica, sentiam a necessidade de saber se os “Ìndios” possuíam alma, enquanto estes nem davam tanta a importância ao conceito de alma trazido pelo Europeu, como pode ser visto nesta anedota:”Nas Grandes Antilhas, alguns anos após a descoberta da América, enquanto os espanhóis enviavam comissões de investigação para indagar se os indígenas possuíam ou não alma, estes últimos dedicavam-se a afogar os brancos feitos prisioneiros para verificarem, através de uma vigilância prolongada, se o cadáver daqueles estava ou não sujeito à putrefação.” (Claudio Levis Strauss)

Esse choque cultural promove conflitos entre os envolvidos, passando a ter preponderância, aquele que pode impor a sua ideia, a sua cultura, o jeito de ser, ao outro, atráves, em muitos casos, da força. Outro exemplo que pode ser citado é o da “Superioridade da raça Ariana”, tendo o Adolf Hitler sido enfluenciado pelas ideias racistas do Gabineu, este dizia ser as conquistas dos povos Europeus fruto da “pureza” da Raça Branca. Adolf Hitler retomou este conceito proposto por Gobineu para justificar sua política de extermínio dos Judeus e povos não-arianos. E Certa vez um repórter Brasileiro indagou a uma ministra do Iêmen sobre o machismo no país dela, onde a mulher tem que ser submissa ao homem, não possuindo as “conquistas” que as mulheres do ocidente conseguiram; ela, ao ser perguntada, devolveu com outra pergunta, dizendo:”quantos anos tem o seu país?” e o repórter respondeu que era 500 anos, ela retrucou dizendo: “Pois a cultura do meu país é milenar.” e fica a pergunta; até que ponto temos o direito de querer intervir naquilo que nos parece estranho e errado, e até que ponto aceitaríamos que o outro nos criticasse  e quisesse nos fazer mudar o modo como vemos as coisas?

Infere-se que o sentimento de Etnografia ocorre primeiramente no âmbito das relaçoes interpessoais, dentres os diversos grupos que vivem numa mesma sociedade, bem como existindo também nas relaçoes entre as culturas de países diferentes, que possuem culturas e características diferentes.

Grupo: Hernani Lopes de Sá. Cristiano Almeida. Edelvan Vieira. Robervan Souza. Derywendell Fernandes. Rodrigo Flores. Dalton Teixeira.

Cultura à moda brasileira

Numa tarde ensolarada de verão, após exatos 43 minutos num agradabilíssimo ônibus lotado sem lugar para sentar, cheguei ao Banco no centro da cidade. A minha falta de sorte habitual me pregou uma peça. Era dia 5 do mês de agosto e o Banco estava insuportavelmente lotado. Dirigi-me ao fim da fila – menino educado é assim que faz, já diria minha mãe -, e, me coloquei a esperar.

No auge da minha impaciência, 1 hora e 12 minutos após entrar no banco, escutei a gritaria das pessoas que estavam na minha frente, pois, um rapaz havia acabado de entrar no banco, e, ignorando a fila, dirigiu-se ao caixa explicando a sua situação e dizendo que estava com pressa para um compromisso.

Ele pediu que a atendente desse um jeitinho na sua situação, mesmo sem ter pego a senha. A caixa, vendo a confusão da fila, se recusou a atendê-lo, e, educadamente, pediu que ele se dirigisse a fila e esperasse. Foi quando o rapaz encheu os pulmões e perguntou: “você sabe com quem está falando?! Eu sou tio da ex mulher do sobrinho de Eike Batista.” …

Se identificou com a situação? Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Dizem que a educação começa no berço, mas acredito ser um patamar muito primitivo de discernimento do indivíduo (aquele diferente de pessoa). Já a educação, que é diferente de instrução, inserida a partir dos primeiros anos de vida e no jardim de infância é que merece a nossa atenção.

A família tem papel preponderante na formação do indivíduo/pessoa. Nos lares onde os laços familiares são mais coesos, os valores morais, religiosos e sociais tendem a ser mais sólidos. É fácil observar, por exemplo, as relações supervalorizadas em famílias da zona rural ou, até mesmo, entre famílias de cidades pequenas (aquelas onde se tem o costume de colocar cadeiras na porta de casa para ver a vida passar).

É quase impossível pensar na possibilidade de um amigo íntimo bater a minha porta, sem aviso prévio, e eu não convidá-lo para entrar por estar ocupado. Em sociedades que a figura do indivíduo é primordial, a prática da democracia se faz mais efetiva, mas, em compensação, nessas mesmas sociedades, a situação imediatamente descrita é naturalmente aceita.

Em contrapartida, numa coletividade como a nossa, que a figura da pessoa é exaltada, estamos vulneráveis a situações como a da fila do banco. Bacana chegar cedo, organizar o dia de acordo com os afazeres e chegar um fulano de tal, primo do filho da menina que trabalha na casa de Cicrano e, simplesmente, por ter mais prestígio socioeconômico, passar na sua frente!

O fenômeno nacional denominado jeitinho brasileiro, é uma característica já enraizada e naturalizada na convivência social, que consiste basicamente em uma forma de burlar a lei ou resolver certas situações de maneira malandra e carismática. A linha que diferencia o jeitinho da corrupção é tênue e não mais conseguimos distinguir com clareza o que é certo e o que é errado.

O sentimento de indignação só é devidamente manifestado quando o prejudicado se encontra na pessoa do eu. Quando a situação de burle as normas é conveniente, o dito-cujo se mantém inerte, por não saber, seja por ingenuidade ou falta de senso político, que as artimanhas utilizadas no jeitinho viciam toda uma sociedade no aspecto político e econômico, contribuindo com a desigualdade e a famigerada injustiça social.

Em oposição a simpática característica do jeitinho, se tem encoberta as situações bem caracterizadas com o “você sabe com quem está falando?!”. Entendida como simétrico oposto, diferentemente do jeitinho, o “você sabe com quem está falando?!” não é difundido com tanto orgulho. Pelo contrário, enquanto não encarado como problema, jamais poderá ser solucionado porque, justamente, não é encarado como tal.

O rechaçado “você sabe” ou o festejado jeitinho são caminhos que desembocam na corrupção, mascarando-a. Acontecem dessa forma porque não enxergamos o problema e conseqüente, não criamos mecanismos de punição, consolidando a cultura à moda brasileira.

E você, utilizaria o jeitinho brasileiro na fila do banco?

Grupo: Bárbara Daniele, Bárbara Luandy, Iracelle Brito, Laiz Andrade, Larissa Peçanha, Pábula Novais, Priscila Lins.

No Brasil Faz Assim

               A sociedade brasileira é uma das sociedades que mais passou por períodos diferentes. Iniciou com um período colonial que em seguida se tornou uma monarquia e que ao passar dos anos se tornou uma democracia. Durante esse período diversos povos habitaram a sociedade brasileira e o resultado disso é uma sociedade contemporânea em que prevalece “o jeitinho brasileiro” e a célebre frase “com quem você está falando”.

            “O jeitinho brasileiro” possui um caráter universal, assim sendo, é praticado por todos e pode ser definido como o modo de solucionar ou sair de algumas situações, ou seja, é utilizado para desburocratizar as relações. Como já mencionado, o “jeitinho” é característico de nossa sociedade e a razão do surgimento dessa “forma de agir” pode ser explicado devido a  burocratização existente no país, além dos seus fatores sociais.

            Na prática, o jeitinho é uma maneira da pessoa se colocar entre o certo e o errado. Ela sabe que o que está fazendo não é moralmente correto, mas perdoa a si mesmo porque também sabe que estará saindo na vantagem. Um exemplo que retrata o “jeitinho” é a figura do despachante, pois este possui facilidades e acesso livre aos órgãos públicos o que resulta em uma economia de tempo para pessoa que pede o “jeitinho”.

            O “jeitinho brasileiro” está tão impregnado na sociedade que foi possível definir uma forma de praticá-lo, a qual indica que a pessoa deve utilizar do charme, da simpatia, da familiaridade e da igualdade. Assim, a pessoa interpelada se compadece e contribui para a execução do jeitinho.

            Conjuntamente com o jeitinho, outra prática está inserida na sociedade e esta se caracteriza por tentar intimidar o outro a fim de conseguir algo. Esta prática é rotulada pela sociedade com a expressão “com quem você está falando”.

            Esta prática é possível devida à diferenciação entre indivíduo e pessoa. O indivíduo seria um ser neutro, sem rótulos, indiferente dos demais, ou seja, é à base do princípio da isonomia onde se espera que todos sejam tratados de forma igual. Já à pessoa vai além do indivíduo, pois esta está impregnada de julgamentos sociais, ou seja, a pessoa é o que ela é mais o que ela possui. Assim, somente uma sociedade que prevalece o conceito de “pessoa” que será possível a prática do “com quem você está falando”, pois esta depende da “identidade social” de quem pratica.

            Apesar de apresentarem conceitos diferentes, a prática do “jeitinho brasileiro” e do “com quem você está falando” podem ser realizados simultaneamente e  na maioria das vezes uma completa a outra, é a uniformização do desapego brasileiro a algumas práticas civis como, por exemplo, a noção de que todos estão submetidos a uma ordem coletiva que é maior do que nossas próprias vontades.

            Exemplos de ambas as práticas são vivenciados em todos os cantos do país e nas mais diversas camadas desta complexa sociedade. Por conta das questões supracitadas (excesso burocrático e sobrepujança da figura da pessoa sobre o indivíduo, dentre outras), tem-se no Brasil um quadro no qual, não raramente, esses comportamentos são tidos como comuns e até aceitáveis, chega-se ao ponto de haver repreensão a quem tem a possibilidade de se utilizar destes fatores e não o faz.

Seria este um traço cultural reversível com o maior indíce de educação ou essa diferenciação só faria acentuar o problema?

 

Grupo: Raphaela Ferraz; Victor Rosa; Vinicius Pales; Eudiene; Elui

Relação “jeitinho brasileiro” e “indivíduo X pessoa” nas seleções públicas

 Um dos três pilares da Revolução Francesa e também cláusula pétrea da Constituição da República Federativa do Brasil, a igualdade é aspirada nas mais diversas sociedades contemporâneas, seja ela no âmbito do gênero, das classes sociais ou, principalmente, das oportunidades. Em seu artigo 5º, caput, a Carta Magna brasileira garante, perante a lei, a igualdade entre todos os seres humanos, sem distinção de qualquer natureza. Esse dispositivo constitucional abarca também a igualdade de oportunidades; no círculo social brasileiro, as oportunidades, muitas vezes, resumem-se às carreiras públicas, cujo acesso se dá através dos concorridos processos de seleção.

As seleções públicas, sejam para o preenchimento de vagas de trabalho ou de vagas em universidades, são pautadas pelo princípio da igualdade; a Constituição Federal proíbe a diferença do critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. Entretanto, apesar dos concursos públicos apresentarem-se formalmente dentro dos ditames legais, pode-se perceber, materialmente, a contaminação de algumas dessas seleções pelo infame “jeitinho brasileiro”. O “jeitinho brasileiro” é uma criação social para burlar o sistema burocrático-legal do Brasil, tornando o acesso aos diversos serviços sociais, principalmente os de natureza pública, privilégio de alguns. O “quem indica” ou o “quem paga por fora” é mais que comum no dia-a-dia dos quatro cantos do país, passando até a ser motivo de orgulho por parte de alguns. Dos concursos e vestibulares públicos, o “jeitinho brasileiro” parecia distante; porém, a consolidação do “jeitinho” os alcançou, substituindo o instituto do mérito.

Os editais dos processos seletivos deixam bastante claro, logo em suas considerações iniciais, a isonomia entre os candidatos e a meritocracia como princípios fundamentais do processo; o que alguns desses editais não explicitam é o verdadeiro motivo por detrás dessas seleções: legalizar a situação de algumas pessoas ocupantes de cargos públicos através da indicação e não de concursos, a forma correta para o ingresso no serviço público. Dessa forma, fica evidente que uma parte dos concursos públicos, em algumas situações, não são nada mais que um “jeitinho” de legalizar o apadrinhamento político de distribuição de cargos públicos sem os devidos critérios estabelecidos em lei.

Se, por um lado, algumas seleções públicas encontram-se contaminadas pelo “jeitinho brasileiro”, por outro lado, os candidatos dessas seleções travam, uns contra os outros, a batalha “indivíduo X pessoa”. Isto se dá na universidade pública, por exemplo, diante da escolha do curso de formação. Sabe-se que a vocação é personalíssima e abrange muito mais do que a simples aptidão profissional. O homem está constantemente procurando sentido para as coisas do mundo, para a sua existência, para a sua função na sociedade. A vocação vem daquelas características que são próprias dele enquanto pessoa, enquanto ser único. No entanto, segui-la é uma opção. O homem sempre terá a oportunidade de ignorar a sua vocação, e é o que muitas vezes se dá na universidade pública.

É comum ver jovens em dúvida entre os cursos de medicina e direito. As grades dos dois cursos são bastante distintas e a escolha do curso, às vezes, acaba se dando pela conveniência de um diante do outro. Na verdade, os tradicionais cursos de medicina e direito são as únicas opções para estas crianças porque dão status aos graduandos. Pouco tem a ver com identidade profissional, vocação, mas sim com aquilo que elas serão quando estiverem cursando medicina. “Estudo Direito” pode dizer, indiretamente, que hierarquicamente você é superior aos estudantes dos outros cursos. “Estudo Direito na UESB” também pode significar que você passou por uma seleção mais intensa que os ocupantes das cadeiras universitárias nas faculdades particulares de Direito em Vitória da Conquista, logo se é melhor que os demais. Estas seleções geram um efeito muito curioso porque os aprovados são, em tese, ”melhores” que aqueles que não ingressaram, não sendo preciso perguntar “sabe com quem está falando?”, pois simplesmente dizer “curso medicina” traz consigo outra ideia: “sou melhor que você”.

Além do mais, existe uma hierarquia para o uso do “você sabe com quem está falando?”. Toda população é o grupo mais geral, mais abrangente. Dentre dela há um subgrupo mais seleto, os universitários. Dentro deste estão os estudantes de medicina, direito e engenharias. E ali estão aqueles que estudam em particulares, estaduais, outros em uma federal, e alguns são estudantes daquela federal. Mas todos estão sujeitos ao uso do “você sabe com quem está falando?”. O mesmo se dá no universo do ensino médio, diante dos colégios militares e institutos federais, que fazem seleções de alunos.

Por fim se tem a discussão acerca da implementação do SISU (Sistema de Seleção Unificada) na UESB em 2012, destinando 50% das vagas à prova do ENEM. Diante disto o DCE UESB, Gestão Nada Será como Antes, publicou nota aqui dizendo por quê são contra a seleção. Em consonância com o pensamento do diretório acadêmico, apontamos que do princípio da igualdade, expresso no início deste texto, decorre o princípio da equidade. Não basta tratar todos como iguais, afinal, nem todos são iguais! O que se deve buscar é tratar os iguais com igualdade e os desiguais com desigualdade. A unificação da seleção pressupõe que a qualidade de ensino nas diversas regiões do país está em condições de igualdade e, por isto, unificar o sistema é proporcionar mais oportunidades aos pobres. Não é. É colocar ainda mais cada macaco em seu galho, cada um ocupando o seu papel social e sabendo a quem se deve abaixar a cabeça quando lhes for perguntado “sabe com quem está falando?”, o oposto daquilo que a Constituição Federal procurou instituir..

Caroline Carneiro Gusmão

João Pedro Botelho Rocha

Violência: um semióforo na instituição policial militar

Segundo Marilena Chauí, em sua obra “Mito fundador e sociedade autoritária”, todo e qualquer grupo social necessita de um conjunto de normas para manter sua coesão, seja ideológica, seja física, ou ainda para a manutenção da integridade dos costumes do grupo social. Tendo em vista este objetivo das normas sociais, a autora trabalha a idéia dos semióforos.

Semióforo é um objeto, uma pessoa, uma instituição ou até mesmo um animal, dotado de um conjunto de significados que influenciam ou condicionam um determinado comportamento, uma crença, um costume, e que pode ser criado intencionalmente ou surgir de forma espontânea nas relações dos diversos tipos de convívio social. É uma insígnia, dotado de uma simbologia própria e caracterizado pela coação sutilmente exercida no indivíduo, persuadindo-o a segui-la. A autora assim o exemplifica:

É um objeto de celebração por meio de cultos religiosos, peregrinações a lugares santos, representações teatrais de feitos heróicos, comícios e passeatas em datas públicas festivas, monumentos; e seu lugar deve ser público: lugares santos (montanhas, rios, lagos, cidades), templos, museus, bibliotecas, teatros, cinemas, campos esportivos, praças e jardins, enfim, locais onde toda a sociedade possa comunicar-se celebrando algo comum a todos e que conserva e assegura o sentimento de comunhão e de unidade. (Chauí, 2001)

A principal característica do semióforo é a capacidade de manter a unidade, a união e a coesão de um determinado grupo social, através da padronização ideológica, e é por isso que ele tem se mostrado como um forte instrumento de poder e de dominação. As chefias religiosas, os políticos, os líderes de corporações são casos de possuidores iniciais dos semióforos que podem utilizá-los ou até mesmo criá-los no intuito de guiar o restante do grupo.

No modelo de produção capitalista, os semióforos parecem, inicialmente, ter desaparecido da sociedade, tendo em vista que tudo se transforma em mercadoria neste modelo econômico. Contudo, na verdade, os semióforos tornaram-se propriedade dos donos dos meios de produção e do poder, permitindo produzir e conservar um sistema de crenças e de instituições que perpetuam a ordem estabelecida. Para realizar esta tarefa, o poder político precisa construir um semióforo fundamental, aquele que será o guardião e o lugar dos semióforos públicos, e este semióforo-matriz é a nação.

A nação surgiu como uma necessidade de pacificação dos anseios populares da sociedade moderna, que se tornava cada vez mais complexa. A idéia de nação surgiu gradativamente, e ela representa uma modificação do estado anteriormente estabelecido, ou seja, ela não é uma vitória social, mas uma imposição do Estado que deve ser acatada e respeitada. E para respaldar e disfarçar o caráter outorgante da idéia de nação, os possuidores do poder criaram um conjunto de semióforos capazes de disfarçar a real intenção da classe dominante.

Como trabalhado acima, os semióforos estão presentes nos mais diversos tipos de organização social, principalmente nas instituições públicas defensoras dos interesses do Estado e, em especial, nas instituições policiais e militares. Neste sentido, analisaremos em específico a Polícia Militar.

As organizações militares, tanto as forças armadas como as forças auxiliares dos Estados (Polícia Militar), fundamentam-se na hierarquia e na disciplina, e para a manutenção destes institutos o ordenamento lança mão de uma legislação diferenciada, dotada de normas especiais, que legitimam um ambiente de trabalho diferente do universo civil.

A conduta militar é caracterizada pela postura marcial, ação vigorosa, demonstração de força, etc. Estas características são bastante nítidas no militar no exercício de suas funções, tanto entre os superiores e subordinados como no exercício da sua atividade fim: no caso da Policia Militar, o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública. Valores como a bravura, a lealdade, o cumprimento eficaz das ordens e a motivação para o serviço fazem parte da cultura castrense, e garantir que sejam mantidos é um dos deveres dos cursos de formação aos quais os recrutas se submetem.

Em razão de suas peculiaridades, o modelo militar de agir exige uma série de condutas a quem exerce suas funções, e existe uma linha muito tênue entre o que é legal e o que é constrangedor, entre a ação vigorosa e marcial e a arbitrariedade e entre o autoritarismo e a violência.

O modelo de ensino nos diversos cursos de formação de militar é muito semelhante em todo o país. Neste modelo, há uma forte presença de atividades condicionantes, que visam adaptar o ingressando aos padrões militares, abandonando os “vícios da vida civil”.

O que se busca nos cursos de formação militar é a completa transformação do indivíduo. Trata-se daquilo que Michel Foucault chama de manipulação dos corpos dóceis: “É dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado” (1987).

Formar o indivíduo é um objetivo histórico na cultura da instrução militar. Como mostra o renomado filósofo francês:

Segunda metade do século XVIII: o soldado tornou-se algo que se fabrica; de uma massa informe, de um corpo inapto, fez-se a maquina de que se precisa; corrigiram-se aos poucos as posturas; lentamente uma coação calculada percorre cada parte do corpo, se assenhoreia dele, dobra o conjunto, torna-o perpetuamente disponível, e se prolonga, em silencio, no automatismo dos hábitos; em resumo, foi “expulso o camponês” e lhe foi dada a “fisionomia de soldado. (Foucault, 1987)

O período de formação na academia busca preparar o policial a exercer as funções e atribuições constitucionais: atividades operacionais, de administração e planejamento das atividades da instituição. É neste cenário castrense caracterizado pela marcialidade, pelo vigor e pelo autoritarismo, onde prevalece o “mando quem pode, obedece quem tem juízo”, através da rigidez hierárquica que o PM se forma, e as características obtidas neste período acompanharão o profissional por toda sua trajetória na organização.

Alguns estudiosos da doutrina policial questionam o fato de a PM estar submetida ao mesmo regulamento que o exército e à mesma metodologia de treinamento e ensino. Tendo em vista a diferença de atribuições entre ambos, esta discussão faz bastante sentido, pois a polícia não é uma tropa de guerra, ou seja, o militar do exército é preparado única e exclusivamente para matar o oponente, enquanto que o policial só pode fazê-lo como último recurso para aplicar a lei. Neste sentido, como é possível conceber que as forças militares dos estados tenham valores distintos das forças armadas? Certamente quase impossível.

Sob a ótica do movimento behaviorista, o tratamento que o militar recebe na academia é caracterizado pela relação estímulo – resposta, e principalmente o reforço negativo através das penalidades e dos sermões. Esta relação, praticada reiteradamente durante o curso, provoca efeitos definitivos e condicionam o comportamento do indivíduo. Sendo assim, pode-se inferir que a probabilidade de um policial agir de acordo o que se submeteu no curso de formação é altíssima, o que torna muito provável a possibilidade de tornar-se um policial violento.

Além do período de formação, o policial enfrenta durante toda sua trajetória profissional, um ambiente de trabalho com todas as características típicas do militarismo citados anteriormente (marcialidade, ação vigorosa, hierarquia, etc.), e dotado de um conjunto de símbolos que estimulam o uso e a demonstração da força. Prova disso basta observar os famosos “corridões” militares e suas canções, onde se exaltam o uso exacerbado da violência. Esta “coloca-se estrategicamente na institucionalidade cultural da polícia militar, como dispositivo constituinte de homens e mulheres em policiais militares” (Calazans, 2004)

Nos quartéis da polícia militar, se percebe que os profissionais mais reverenciados são exatamente os que utilizam a força com maior freqüência, estes são exaltados e elogiados pelos colegas e pelo comando. Um fato curioso acontece em algumas unidades especializadas da PM: há uma competição entre as guarnições que mais produzem, onde a produção é medida por pontos e cada tipo de ocorrência tem uma pontuação diferente variando conforme o grau de perigo e de força utilizada, por exemplo, um Auto de Resistência com força letal vale mais pontos que um TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), já que neste não há óbito, e naquele sim.

Diante das análises feitas até aqui, ousamos inferir que a violência é uma espécie de semióforo enraizado na Polícia Militar, instituídos através do conjunto de valores difundidos pela instituição transmitidos aos seus integrantes desde o primeiro momento de ingresso nas fileiras da corporação e alimentados no ambiente de trabalho durante toda sua carreira.

Carlos Lacerda

Cosme Severo

Dailton Reis

Danilo

José Nilton Neves

Luis Luan

Ronaldo Rodrigues Santos

Que Jeito para o Jeitinho?

Uma análise sobre as relações que envolvem o contexto social nos leva a perceber certas particularidades no comportamento do brasileiro que o diferencia dos outros povos. São características que carregam em si algo além da nacionalidade, além do “ser brasileiro” e orgulhar-se desse fato, e esse algo é o que chamamos de jeito, o jeitinho brasileiro. Em que se pese a tão exaltada cordialidade do homem brasileiro, há no “jeito” a ideia de meio possível para livra-se de todos os problemas. Nesse sentido: como dar um jeito no jeitinho? Como fazer disso que já se tornou institucionalizado no convívio social não uma forma de burlar leis para alcançar o desejável, mas de obter por vias corretas aquilo que se almeja?

A prática do jeitinho traz consigo uma idéia de “só dessa vez”, “ninguém precisa saber”, “nem vai prejudicar”, “é tão irrelevante”, no entanto, quando analisado na essência, percebe-se o seu efetivo poder de transformar em caos as relações sociais, as atividades cotidianas e o desenvolvimento da uma sociedade. O Brasil é amostra certa desse contexto: uma promessa de futuro, país em desenvolvimento, mas por que será que possui um sistema de saúde tão deficiente? E a violência, quais as razões? O jeitinho responde à problemática em certa parte, pois em uma sociedade pautada pelo sistema em que todos os indivíduos resolvem arranjar uma forma especial de solucionar os problemas ou lidar com uma situação de emergência burlando normas, com astúcia e esperteza, a corrupção instala-se como lei.
Ao sentir-se envolvido no descaso das autoridades quanto a situação do país, o brasileiro justifica suas transgressões, que o leva por vias corruptas a alcançar seus fins, e gera a impunidade. Analisar o jeitinho do ponto de vista negativo, do ilícito, é perceber que essa forma de resolver os conflitos de forma mais fácil, por um caminho mais curto, violando regras e princípios, não deve ser vista como uma atitude de sagacidade, mas sim de desrespeito ao ordenamento jurídico e ao próximo. O jeitinho, nesse contexto, é a ilegalidade utilizada para alcançar os fins e, o imediatismo promove que para isso seja utilizado qualquer meio.

Os “jeitos” são marcantes no Brasil, frise-se a análise de Lourenço Stelio Rega, no livro “Dando um Jeito no Jeitinho – Como ser ético sem deixar de ser brasileiro”, quando nos lembra da existência, em nosso país, de muitos “dinheiros”: aqui no Brasil a moeda corrente não é apenas o papel moeda. Há o vale-transporte, vale-refeição, a ficha telefônica, a bala que vem de troco, o crachá, o uniforme do carteiro ou militar que lhe isenta o pagamento da passagem do ônibus. Distanciando-se, da visão estereotipada do “jeitinho brasileiro” como algo ligado a condutas ilícitas ou contrárias aos costumes e a moral da sociedade, surge um jeito brasileiro associado à criatividade, inventividade, à alta capacidade de adaptação às situações mais inesperadas do povo brasileiro. Esse “bom” jeitinho abrange desde o pregador no saco de café a fim de conservar-lhe a substância, ao caso do operário que substitui o colega de trabalho em seu turno para que este participe de um curso supletivo para ganhar o tempo perdido.
Além disso, também denominado de “jogo de cintura”, o jeitinho brasileiro surge como mecanismo para driblar os obstáculos impostos pela vida, principalmente nos países subdesenvolvidos, onde o desemprego e a falta de educação segregam notável parcela da população, dificultando o modo de subsistir desses indivíduos. Embora estes fatores “dificultem” a vida dessas pessoas, não a torna impossível, despertando, neste contexto, o uso do “jeitinho brasileiro”.Ilustrativamente, temos o exemplo de Fátima Patrício, que desejando realizar o sonho de ser atriz, muda-se de Recife para o Rio de Janeiro e para se manter, faz serviços de tosagem de animais a conserto de computadores.

Vê-se que nem todo jeito é ilegal ou desmoralizante. O jeitinho considerado positivamente nos leva a perceber que dentro do contexto da sociedade brasileira, tão marcada pela desigualdade nos mais diversos setores, esse artifício típico é, muitas vezes, um meio empregado pelos que se vêem diante de tantas burocracias exigidas dentro do funcionalismo do “Sistema”. Assim, não se pode, de todo, reprovar tal conduta, visto que nem mesmo o nosso Governo é capaz de mostrar retidão no que faz. Claro que o não-comprometimento de nossos entes políticos não justifica uma adoção de postura equivalente, mas permite, ao menos, “abrandar” toda a condenação feita quando se trata do “jeitinho brasileiro”. Existe sim, aquele jeitinho aceitável, como ceder o seu lugar na fila de um supermercado para uma pessoa que somente irá comprar um ou dois itens. Nessa linha de raciocínio, é importante frisar que existe uma necessidade de se justificar o uso do jeitinho, com base em princípios éticos. O que é jeitinho, obviamente, nem sempre será ético, visto que é “um jeito de dar um jeito nas coisas”.

Diante de tudo o que foi exposto sobre o tão acusado e usado Jeitinho Brasileiro, conclui-se que apesar de inegável carga de cordialidade,e porque não dizer igualdade momentânea entre os usuários e praticantes do jeitinho,não se pode negar que em meio a burocracia ele se torna uma tentadora solução para os problemas corriqueiros do dia a dia. Porém a partir do momento que é usado como burlador das leis, este torna-se uma real ameaça a concretização da tão sonhada e almejada sociedade ética e igualitária. A institucionalização do fenômeno do jeito no contexto da sociedade brasileira deve, pois, pautar-se em comportamentos conciliadores entre os valores éticos, e políticos, entre o individual e a coletividade. Propagado deve ser o uso do “bom-Jeitinho”, o jeito certo pra o uso do jeitinho.

GRUPO: ALICE SANTOS PEREIRA, ANDRESSA FERRAZ VIEIRA, FRANCISLANE DOS SANTOS CARDOSO, LOURENA ANDRADE GONÇALVES, MATEUS CAYRES DE OLIVEIRA, RAFAELA TOFFOLO.

Futebol e “Jeitinho”: A identidade do Povo Brasileiro

O povo brasileiro de modo geral, é caracteristicamente definido pela sua alegria e jeito “malandro” de levar a vida, que de certa forma pode ser explicitamente notado individualmente no cotidiano. Para isso basta observarmos as dificuldades e problemas em que o brasileiro enfrenta a cada dia, e mesmo assim sempre dá um jeito, não se deixando abater, tocando a vida como se nela só houvesse conquistas e coisas a comemorar.
Partindo dessa premissa e de todo o conhecimento a respeito do brasileiro, é possível determinar o futebol como a grande identidade deste povo. Sendo uma entidade incorporada pela grande maioria como objeto de paixão nacional, e mesmo que de forma temporária faz-nos esquecer dos problemas mundo a fora e nos reunir diante de bandeiras próprias.
No entanto, o ponto a que queremos chegar encontra-se na relação existente entre o futebol e o instituto do jeitinho, ambos extremamente vistos como identificadores do povo brasileiro, e os quais buscaremos relacionar.
O jeitinho vem a ser uma forma especial de se resolver algum problema ou situação difícil ou proibida, através de uma solução criativa para alguma emergência, seja sob forma de burla a alguma regra ou norma preestabelecida, seja sob a forma de conciliação, esperteza ou habilidade, segundo as palavras de Livia Barbosa, em seu livro “O jeitinho brasileiro”.
Podemos, no âmbito do futebol, distinguir o famoso “jeitinho” da tão falada corrupção: Uma situação recorrente, principalmente na reta final de campeonatos, é o uso das chamadas malas brancas e pretas. Estas simbolizam bem a distinção entre esses dois “institutos” brasileiros. A primeira define-se como um incentivo pra que os times já sem perspectivas de título que estarão em confronto direto com equipes que disputam diretamente pela taça, joguem com maior empenho. A outra pode ser conceituada como um “estimulo” à derrota, um pagamento por parte dos times que brigam pelo título para os que nada lutam, a fim de que estes percam propositalmente em beneficio do financiador.
Por que estas duas práticas podem explicar o jeitinho e corrupção? A mala branca, por mais criticada que seja, trata-se apenas de um estimulo para que os times sem propósitos joguem como se ainda estivessem disputando algo no torneio. Incentiva nada mais, nada menos que a vitória, algo que é o objetivo de todo e qualquer esportista. Sendo assim, esta é apenas uma forma criativa (e sagaz) para se beneficiar em alguma situação, ou seja, um “jeitinho” dado pelos times brasileiros.
Já a segunda interfere diretamente neste princípio básico do esporte: a busca incessante pela vitória. Essa prática compra a derrota, subvertendo a ordem natural do esporte. Trata-se assim de uma espécie de corrupção, pois a mesma inverte a conduta considerada moral do esporte, e assim como toda corrupção inverte o que determinada sociedade considera ética.
Outros exemplos de “jeitinho brasileiro” no mundo do futebol são a catimba e a simulação. Esta é uma prática em que se visa, por parte do jogador, macular a imagem a que o juiz irá interpretar, como num caso de um pênalti. Determinado jogador, inventa, cria uma situação de falta onde a mesma não ocorreu. A outra é usada para que um time segure o resultado a fim de conquistar o desejado ou busca que a equipe adversária perca sua racionalidade e opte pelo uso da violência. Vale ressaltar que tal prática é majoritariamente utilizada pelo futebol argentino, tendo o nosso futebol aderido a tal prática durante vários anos de confronto direto.
Portanto, o tal “jeitinho” é algo intrínseco à cultura brasileira. São condutas que enraizaram-se em todos os âmbitos do modus vivendi brasileiro, não obstante alcançou o que talvez seja nossa maior paixão nacional: o futebol ( disputando arduamente com o instituto do bumbum).

Felipe Martins Farias
João Gabriel Barreto
João Paullo Falcão
Rafael Luz
Tailan Ribeiro
William Santos

Você sabe com quem está falando? A impunidade gerada pela fama do futebol.

Não é raro escutarmos a expressão “você sabe com quem está falando?”. Quem nunca ouviu, certamente conhece a história de alguém que a utilizou, seja para se safar de alguma situação problema, seja para diminuir a pessoa com a qual se estava falando.O fato é que o “você sabe com quem está falando?” tem sido utilizado hoje (mais precisamente desde a época pós-abolição) como uma forma de segregar os iguais, o que não implica dizer que não fosse utilizado antes disso, mas isso será tratado a seguir.

Até o período da abolição, ficava claro quem era o superior (hierarquicamente falando) e quem eram os inferiores, não se fazendo tanta a necessidade de uso dessa expressão. Contudo, no período pós-abolição foi se tornando mais notável que, devido à eliminação da classe hierarquicamente inferior (por mais que continuasse sendo inferior socialmente) estava fazendo-se necessário um instrumento que pudesse dar reconhecimento àqueles que têm o poder, ou que pelo menos acham que o possuem. Dessa forma o brasileiro hoje, no geral, ao se deparar com um problema onde sua hierarquia pode ser fator decisivo na resolução (Por exemplo: um promotor ou juiz que é parado pela polícia em seu carro por ter cometido uma infração) faz o uso do “você sabe com quem está falando?” para dar ciência ao seu interlocutor que ao contrário do que regem todos os princípios (constitucionais e de direitos humanos) aquele a quem está se referindo não é um igual, é um ser que por ser hierarquicamente superior, possui seus privilégios.

E não é somente relacionado à cargos públicos que essa expressão aparece. Tem sido cada vez mais comuns pessoas se utilizarem de sua fama e prestígio social para conseguirem se livrar de diversos tipos de situações: Bono Vox (vocalista da banda U2 já saiu de um restaurante em SP sem pagar a conta); O cantor Alexandre Pires (o qual atropelou uma pessoa, saiu sem prestar socorro e depois foi absolvido); O Ex-BBB vencedor da primeiro edição do Big Brother Brasil Kléber “Bam Bam” (se é que isso chega a ser qualificação de alguma coisa) que ao ser abordado por policiais por ter cometido uma infração afirmou: “Vocês sabem com quem estão falando?”; dentre tantos outros casos. Contudo uma “classe” que recebe muito este protecionismo da fama, são os relacionados com futebol.

É evidente que no Brasil há um endeusamento do futebol, de modo que este é a resposta para a maioria dos problemas: corrupção, escândalos políticos, demora de obras públicas e etc. Como se não bastasse este prejuízo social, os próprios jogadores também aproveitam-se desta imunidade, acabando por sentirem-se acima da lei.

Tomemos como exemplo o clássico caso do jogador Edmundo. Em 1999 ele causou um acidente de carro que resultou na morte de três pessoas, deixando outras três feridas. Por muito tempo ele ficou impune, continuando a jogar, sendo aplaudido, idolatrado, até que em Junho de 2011 foi preso. Contudo, esta prisão não durou muito tempo, tendo sido declarada extinta a pena pelo ministro do STF em 16 de setembro deste mesmo ano. Nota-se aí que Edmundo ficou por mais de 10 anos impune, e poucos foram os torcedores que sequer lembravam-se deste crime cometido por ele, e ainda havendo aqueles que argumentavam “ah, mas ele é jogador de futebol” como se este possuísse uma legislação à parte da nossa.

Outros casos devem acontecer com freqüência, contudo a mídia não deve ter, conseguido acesso à eles, uma vez que na ocorrência destas situações o jogador se safa silenciosamente. Mas não é só para se livrar destas situações que eles usam a famigerada expressão. Uma vez que são reconhecidos nacionalmente, e até no exterior, como profissionais, tendem (claro que não são todos) a chegar para qualquer um que pareça desconhecê-los e afirmar: “Afinal, você sabe com quem está falando?” afim de que a pessoa assuma (na visão dele) um comportamento digno de conversar com uma “celebridade”.

A maioria dos jogadores vem de famílias simples, alguns de comunidades carentes de modo que, ao passar de poucos anos efetivados no profissionalismo, começam a ganhar rios de dinheiro e verem suas imagens e ações estampadas em revistas e jornais. Isso acaba sendo demais para um cidadão que há alguns anos não possuía nada (ou quase nada), de modo que ele próprio acaba se vendo como uma importância que deve não deve ser dispensada aos demais, começa a se ver da forma que a mídia o exibe, e ela exibe bem, coloca apelidos, compõe músicas, tudo para tornar aquele jogador um ídolo, e assim ele se sente, passando a agir como um, se comportar como um, esperando que todos o tratem daquela forma, inclusive a própria lei.

O psicológico dos jogadores é pouco trabalhado em relação à isso, e dessa forma eles acabam criando este perfil idolatrado, crendo que, por serem quem são e por fazerem o que fazem, não só podem, como devem ser tratados de forma diferente, acima da própria lei, regidos pela norma da fama do futebol.

  • Felipe Martins Farias
  • William Santos dos Anjos
  • João Paullo Falcão Ferraz
  • João Gabriel Barreto Rocha
  • Rafael Luz Chaves
  • Tailan Ribeiro Souza

FUTEBOL: INSTRUMENTO IDEOLÓGICO OU INSTITUIÇÃO NACIONAL?

Uma análise antropológica, seja qual for o objeto a ser observado, requer, mais do que qualquer outra abordagem ou estudo científico, uma neutralidade substancial que permita uma visão ampla e geral acerca das particularidades, do funcionamento e dos efeitos referentes a esse objeto. Dessa forma, o princípio da alteridade, presente nos estudos antropológicos, e caracterizada pela análise objetiva a partir de um ângulo oposto ou ao menos diferente daquele que se acostuma culturalmente se posicionar para a observação, se faz extremamente importante para o estudo do objeto em questão, uma vez que o FUTEBOL envolve ao mesmo tempo política, economia, sentimentos, irracionalidade e paixão.

Tendo pontuado essas questões que são pressupostos de uma análise antropológica, cabe justificar o tema a ser abordado. Muito pouco se desenvolveu estudos de cunho científico ou antropológico a respeito do futebol, talvez pela dificuldade de separação dos elementos intrínsecos a ele ou pela desconsideração de seu caráter cultural de massa.

Assim, os textos “Raça e cultura” de Levi Strauss, “Sabe com quem está falando?” de Da Matta e, principalmente, “Jeitinho Brasileiro” de Lívia Barbosa, permitem não só evidenciar os traços culturais e a identidade brasileira presentes no esporte como também trazer uma análise crítica, assim como a que é feita por Da Matta sobre o assunto, enxergando pela ótica da dramatização e ritualização.

Do de vista de Da Matta, a análise do futebol deve passar por sua categorização como um rito, uma dramatização, ou seja, uma forma de chamar a atenção para relações, valores e ideologias que de outra maneira não poderiam estar isolados da rotina do dia-a-dia. Para o antropólogo a ideia de que “o futebol é o ópio do povo” é integralmente cabível, pois considera o esporte, especialmente no Brasil, um instrumento ideológico usado pela elite para desviar a atenção dos problemas sociais, os quais produzem mais efeitos nas classes menos favorecidas, às quais (segundo ele) é direcionado o espetáculo. De certa forma, a visão de Da Matta é no fato de que o esporte toma parte do tempo do indivíduo, que no momento em que veste a camisa do time de coração, se esquece dos problemas cotidianos e deixa-se envolver pela paixão e irracionalidade. Exemplo clássico,é a invasão dos torcedores aos CTs durante a semana, em horário de trabalho.

Entretanto, mesmo tentando ocultar problemas corriqueiros da sociedade, o esporte acaba sendo acometidos por transtornos equivalentes como a corrupção, violência, cobiça, etc, como se fossem flashes da realidade que são vistos apenas como “problemas do jogo” e não como um reflexo de uma realidade mais ampla.

Outro ponto de vista pertinente, diz respeito à Seleção Brasileira. Quando o país é representado em campo é como se a entidade abstrata da nação se tornasse algo visível e concreto, sobre a forma de uma equipe que sofre, vibra e vence seus adversários. A nação passa ser a própria seleção. Isso é mais evidente ainda em época de Copa do Mundo, em que o país pára para se envolver no clima de “patriotismo” gerado pela competição esportiva. Por certo lado, a utilização do esporte como “ópio do povo” ou como “pão e circo” é clara (como fora usado certa vez pela ditadura militar, fingindo incitar um patriotismo e tentando esconder a dura realidade da época); mas por outro, é uma forma do brasileiro expressar com orgulho sua nacionalidade, e se envolver diretamente com o país, sem burocratização, poder se relacionar diretamente com o Brasil. É nesse ponto que entra a figura do “herói”, alguém que viveu no plano fisco,real, passou dificuldade como a maioria dos brasileiros (como é o caso da maioria dos jogadores vir de classe sociais mais baixas), lutou para se tornar alguém na vida, conseguiu ascensão financeira, alcançou sucesso, se tornou ídolo, “transcende o plano da realidade”  , representa o país internacionalmente com a seleção, se torna ícone para a maioria dos que o viram jogar e espelho para os jovens que ouviram suas histórias e “grandes feitos e conquistas.”  Essa história se repete com vários jogadores do Brasil, como Romário, Ronaldo, Ronaldinho,  Zico, e, principalmente, Pelé, que é o maior ícone do esporte no âmbito mundial.

A sociedade brasileira se envolve nesse esporte porque se identifica com ele e com a história dos jogadores. Não podemos negar o fenômeno cultural que é o futebol no Brasil, em específico. Fala-se que foram os ingleses que inventaram o futebol, mas que foram os brasileiros que o aperfeiçoou, isso porque o esporte se tornou uma instituição do país, que soube muito bem imprimir ou conjugar vários dos seus elementos culturais, como o samba e a capoeira, além dos traços característicos do brasileiro, como o jeitinho brasileiro, a ginga, a malandragem positiva (tópicos que serão discutidos em outro texto). Além disso, o esporte em nosso país tem características extremamente diferentes do praticado na Europa. Percebe-se que nos campeonatos espanhol, francês, italiano, inglês, não há muito imprevisibilidade, são geralmente 2 ou 3 times que disputam efetivamente o título, os campeonatos são, em regra, desequilibrados. No Brasil, o campeonato se torna a cada ano mais imprevisível, com no mínimo de 8 a 10 times em plenas capacidades de conquistar o título, ou mesmo os considerados pequenos que surpreendem e passam os de maior tradição. E essa “sorte”, ou “destino” que caracteriza o esporte no Brasil mexe mais ainda com a emoção do torcedor que, na maioria das vezes não torce pelo time por uma escolha livre, mas por ter sido incentivado ou induzido por familiares e amigos, desde criança, a torcer por determinada equipe. Dessa forma, irá torcer por seu clube tanto nos momentos de glória como nos momentos de fracasso, o que torna o esporte algo fantástico.

E você, qual sua opinião sobre o assunto? O futebol é, predominantemente, um instrumento ideológico ou uma instituição de identidade brasileira? Deixe sua opinião!

William Santos.                                                                                                                        João Paullo Falcão.                                                                                                                    Tailan Ribeiro.                                                                                                                           Felipe Martins.                                                                                                                           Rafael Luz.                                                                                                                               João Gabriel Rocha.